quinta-feira, 29 de novembro de 2012

"Caso ao acaso"

Quantos acasos tem o nosso caso!
Quantos tremores de te ter e não ter...
Ressonâncias de olhos húmidos.
Olhares que fogem mas querem ver
e temem as desoras até a uma próxima.

Teias de sociedade, viciedade.
Perturbações dos frios à flor da pele.
Transformam o querer em queria,
o desejo em desassossego inconfortável.

telepatia, traz-me por favor o consolo
de saber que o sono não me foi roubado só a mim,
que também algures um outro escuro,
um outro chão romõe um outro corpo,
uma outra alma.

Resta então a espera de outro acaso,
outro adiamento da nossa resolução,
outra dança, outro abraço,
outro "não vás",
a espera do retorno da minha pele
a este corpo que outrora abraçaste.


domingo, 4 de novembro de 2012


Correrias,
Tropeços, quedas aparatosas.
Cicatrizes,
Incautas felicidades.
Fiz o pino e
Três cambalhotas
à minha existência...
Após isso e alguma falta de jeito
(agitar sempre antes de usar
Como se pode ler na embalagem),
Ecos de nadas,
Exaltações serenas
E uma caneta na mão.
Sigamos então
Que a página anterior
Jaz já amachucada no chão.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012


era uma vez um menina.
tinha sonhos de longe e de muito.
tinha gentes no bolso
sorrisos na mochila...

um dia trouxe o longe para o hoje,
o muito para o ar que respirava,
não teve espaço para as pessoas
mas deixou com elas os sorrisos
para trazer a mochila vazia.

as pessoas gastaram os sorrisos,
não esperaram o seu regresso,
deixaram pela terra as memórias
e disseram o adeus ingrato de quem nem lembra.

a não lembrança fez-se pesada,
pesados rochedos arrastavam
a mochila da menina.
agora sem espaço para sorrisos
mas sequeosa de pessoas
que a quisessem ver voltar.


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

emerge neste escuro de quatro paredes
a ilusão forçada de que ainda não foste.
é como um colorido balão na mão duma criança
que sem noção de como lidar com ele,
o larga e deixa voar.
As consequentes lágrimas
gritam o sentimento de que o tempo foi curto.
as memórias são pinturas à chuva.
Choram elas e chora o pintor
pela arte perdida... a tela sem foco.
Exaltam-se todos os poros
do corpo que te viu dormir,
que te sentiu respirar e trincar os lábios.
Não estás mais aqui
e o rio desta cama torna-se mar
e eu sou infima sem ti.
sou menos que esta cama
subtraída à nossa respiração,
ao desejo e aos teus olhos.
Sou quase nula e o quase é um eufemismo.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012


Quis ser poeta.
precipitei-me para o papel
E sentei-me diante dele.
De repente os meus lábios
Eram celas de prisão perpetua,
Os meus dedos a neve ao sol.
As palavras cresceram demais
Para a minha boca que se tornou infima.
E os meus olhos assistiam a tudo
Na inércia de quem nao pertence.
A inércia de quem esta longe.
E virgens ficaram as linhas
Do moderno papiro.
Amanhã volto a tentar.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Quis ser poeta.
precipitei-me para o papel
E sentei-me diante dele.
De repente os meus lábios
Eram celas de prisão perpetua,
Os meus dedos a neve ao sol.
As palavras cresceram demais
Para a minha boca que se tornou infima.
E os meus olhos assistiam a tudo
Na inércia de quem nao pertence.
A inércia de quem esta longe.
E virgens ficaram as linhas
Do moderno papiro.
Amanhã volto a tentar.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Foge em rios de tempo
A perdida dádica de outrora.
Água de pungente egoísmo,
Sedenta, ainda assim,
De um tempo que não é dela
Mas que lhe é feito merecido
Por desprezo de outrem.
Retorno é o engano
Que esta fraca carne pede às estrelas.
O engano que dá de si
E a entrega à realidade...
Real coisa que nao quer nem persegue,
Pois rios de eternidade nao obedecem
A tempo nem gravidade.

nulidade.

Quando era de nuvens que urgia falar,
Eras só tu quem eu via.
Eras tu o temas que nao me abandonava,
Ao contrario de ti.
Quando eram epopeias que urgiam levar a cabo.
Era tua toda a minha pele.
Era tua toda a minha carne...
Manchada de um encarnado dor.
Quando urgia fazer acontecer primavera nos corações,
Eram por ti que choviam lágrimas dos meus olhos,
Era em ti que se fazia um inverno cruel.
Sem lareira ou demais calor que me conforme,
Eram nulas as nuvens, as epopeias.
Era nula a primavera.

sexta-feira, 13 de julho de 2012


Não há sono nem quietude.
Não sou sombra nem realidade.
O nada pede-me de volta
Às cinzas do início.
Traz no bolso uma fotografia velha
Que não consegue esconder de mim.
Que cores, sabores!
Abala-se o chão a meus pés
Por te rever.
Feliz dessa imagem que nao te perdeu
Como eu...

terça-feira, 10 de julho de 2012


A cidade lá fora não se move.
E no chão, desnudo, um corpo faz-lhe companhia.

Há nele desertos sem areia,
Plantas sequeosas.
E até o céu chora
Numa absurda sintonia.

Tudo é estranho.
Tudo se evadiu de substância
E, contas feitas,
Este é um nada bem medido,
Uma ausência de palavras
Bem escolhida.


domingo, 1 de julho de 2012


perdoem-me as árvores,
perdoe-me o chão!
fujam aves e demais seres.
o baile das felicidades acabou
e é tempo de limpezas.
limpar estragos,
devolver memórias,
correr cortinas de desgostos
e desligar luzes de sonhos.
a festa terminou
e os protagonistas já recolheram e,
tal como no final de um filme rodado,
voltam agora as cinzentas vidas,
cinzentos caminhos
e separados.
(coloridos serão, porventura,
para alguns mais sortudos e adiantados).
Até para a próxima.


Cerca-me o aconchego solitário desta noite.
Uma noite cega e surda de desejos e ímpetos,
Esmurecida nos intervalos da chuva
Que sinto lá fora e
Que veio para me lembrar das cores,
Paladares, refinadas e douradas captacões desta alma que espera.
E sentada ao fundo da cama,
Lembrancas são como nuvens...
Pinceladas vivas nesta tela negra,
Curvada perante mim em jeito
De uma servidão e fraqueza.
Nao sabe ela a dimensão
Da fraqueza que me apavora,
Peso que me corrói e desfaz.
Tenho trémula a minha mão
Sobre este rosto que não encontra mais nobre gesto,
Mais terno e pueril descanso.

terça-feira, 29 de maio de 2012


Hoje escrevia-te um livro.
Hoje tocava.te e fugia contigo.
Talvez pela minha percepção
De que o hoje era o amanhã que temiamos
E que nos admitia a razão
ainda antes de chegar.
Todas as esquinas eram felicidade para nós
Não fosse outra praça, o nosso âmago.
Eu tinha em ti a necessidade
Que não reconhecia.
Não era, porém, a necessidade
De quem não respira.
Era um querer com os olhos,
Um suspirar com os poros,
Um sufocar de luz e escuridão ao mesmo tempo.
Havia ânsia que me movia...
A mesma que hoje
(aquele dia em que te escrevia um livro)
Te quer pintar uma das mais belas histórias.
Aquela que era nossa e vou escrever no livro
Na esperança que a tua memória
Não a apague, mesmo sendo essa
A revolução que devo à pessoa
Que sou e de quem fujo.

quarta-feira, 16 de maio de 2012




Hoje não consigo partir.
Não consigo descansar os meus olhos
E deixar-me ir.
Tenho um tormento que me chora
E me ri e me confunde, até!
Tudo gira e me foge
Com toda a réstia de energia
Que este dia ainda me concede.

Hoje não consigo partir.
Não consigo fechar-me em mim,
Nem que por umas horas
Que tão pouco contam no correr das vidas,
E deixar de fora o mundo
E todos os assuntos pendentes dele!
Talvez porque pendente é
Também a minha existência
E tudo o que dela emana
Num baile de primavera.
Uma primavera transfigurada
E sem dormir.
Sem sono, na verdade!
Mas com o cansaço que se faz
Consequência e que a rasteja enganada.

Hoje não consigo partir.
Ninguém me sente a falta
Mas eu já não sei partir!
Talvez porque ficar é o caminho,
Sonhar é miragem e engana as gentes.
Ofusca as gentes!

terça-feira, 8 de maio de 2012

Eram esses os dias que me arrancavam de ti.
Os dias forrados de vis inverdades
Que desnudam imperfeições impensáveis! desnecessárias...
O tempo e o chão fugiam-me dos olhos
Como quem não quer nem ficar.
Como se, ficando, violasse quaisquer leis ou legiões...
Ou até morais, quem sabe.
Mas, ficando ou não, há cores perdidas,
Tingidas de lágrimas, desbotadas de sentidos
E é imperativo deixar, inverter direcções,
Suar caminhos, quebrar percepções ou procurá-las.
E os dias não serão mais que árvores levitantes
Em dias solarengos,
Deixando apenas ver o que a sua sombra recorta,
Lembrar o que ela ilumina.

terça-feira, 24 de abril de 2012



E aquele momento em que sabemos que não devemos ir, não devemos fazer porque nos faz mal, nos faz relembrar e remoer?

Hoje tive um desses. Fui porque era exactamente o que queria, não hesitei sequer! Os corpos têm segredos, as mentes contades e negá-los, contrariá-los é trairmo-nos. É rasgar fora a nossa pele na esperança de cicatrizar num outro corpo. Não era mal pensado, mas não me ocorreu na altura e na verdade eu sabia que a presença dele seria a euforia de todos os meus sentidos...

Tinha saudades dessa euforia, esse regozijo das entranhas que anestesia e dá lugar a uma calma chamada "casa". Mas esta casa não é mais minha e ter de sair, voltar ao real, ao inverno que nos engana cá fora... é uma falta que dói, desaloja e gela.

domingo, 22 de abril de 2012


.hoje fui ver o filme "Florbela" de Vicente Alves do Ó com a fantástica Dalila Carmo.
.lembrei-me que detesto intervalos de 7 minutos.
.também não gosto de cenas com homens a barbearem-se.
.portugal é um país lindíssimo.
.as letras são o nosso maior património.
.continuo sem perceber porque é que espiritos livres continuam a ser chamados de loucos.
.ponto final.


 


é como quem morre um bocadinho todos os dias.
é como quem quer vida onde já a teve e conheceu mas perdeu.
é como quem finalmente se vê claramente na pele de uma mulher que perdeu.
é como que uma mulher que perdeu sem saber o que teve, foi e não volta porque nada volta quando perdido e maltratado.


culpa minha.

terça-feira, 27 de março de 2012

Carta de amor

"todas as cartas de amor são ridículas"
Sabidas são as dores e cores que tantas vezes carregam...
Sadia era a minha ignorância em tais domínios,
Mas tristes sao tais almas, também,
Cujo maior calor e frio nao conhecem.
Todas aquelas imagens que me surgem e assaltam e violentam,
Do alto da minha dor quase lhes grito para que nao me gastem as últimas forcas.
Um par de linhas e não sei o que digo.
Linhas trémulas como a minha mão que te sente e mendiga
Ao abrigo da humildade mais crua que existe.
A alma humilde de quem teve sem saber,
Perdeu sem saber e chora agora com um peito sem essência,
Sem cheiro nem sumo...
Amor que sangra e não pára,
Manchando escarlate página fora,
Escrito este que espero que nunca leias...


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Curioso... quem me conhece nunca me atribuiria tal coisa, mas quem me conhece não sabe quem eu sou portanto está tranquilo!