sábado, 26 de setembro de 2015



Eu sou a companhia de ninguém,
O grito num cemitério 
E a sede de água salgada.
De mim, o tempo, o suor e as lágrimas,
Para mim, só as horas de expediente,
Os dias úteis.
Aceito-me neste desprezar ignorado.
Vejo-o e ele entranha-se.
É uma nuvem barulhenta!
Queria fazê-la chover e desaparecer,
Mas este Outono não quer acabar.

sábado, 19 de setembro de 2015

Iam sentadas lado-a-lado.
A noite e a escuridão,
A tristeza e a folia.

Que perfeita e real metáfora 
No vagão daquele comboio.
Podiam ser a mesma pessoa,
À inconstância de quem se permite sentir.
Duma nem somente o olhar tinha sentido ou direção,
A outra não tentava nem disfarçar o sorriso. 

Uma era a sombra da morte escutada, ascoltada,
A outra a apoteose do êxtase.
Seguramente veria o objeto de tal êxtase em breve.
Não sabia sequer se era a noção da sua existência
Ou a ânsia do eminente reencontro 
Que lhe arrancavam aquele brilho!

A outra não queria que o tempo rolasse.
Pedia aos momentos todos do dia para ser redimirem.
Pedia-lhes que não fossem ambiciosos.
Pedia-lhes mais um dia, um dia passado.

O tempo nem existe e nós contamo-lo.
Voa nos dias dos risos,
Arrasta nos dos tormentos.
Não há cura e aceitar não é nem redenção.
Aceitar é desculpa, é pretexto,

Nada muda,
Uns dias uma, outros a outra,
No vagão daquele comboio.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Ser alguma coisa


Diz que é difícil ser-se alguma coisa.
Difícil não é sentar e ser,
Não é ter a imagem dessa coisa 
E personificá-la.

Difícil é querer o suficiente.
Difícil é não perder o norte sem GPS.
Difícil é aceitar os quereres dum corpo
Que cresce e não quer regras.
Difícil é ser inteiro.

Regressos e despedidas arrancam-nos pedaços,
Começos implicam uma existência assimilada.
Que quereres, que coisas sobrevivem aos adeus?

Sorte de quem quer e é,
A coisa para que nasceu.