terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Razão tinha o Eugénio

Estou a escrever cedo demais.
Por certo amanhã
Já se mudaram os ventos.

Mas esta noite quero adivinhar!
Quero convencer-me de fora para dentro.

Há dias em que se me foge o medo de falar
E todos os músculos se sossegam.
Sou a reminiscência que esqueci de lembrar
E a prudência parece uma piada de criança.

Sou toda coragem, despida no escuro,
Toda eloquência de vontade e luz.
E sinto entre os dedos a veludez da vida,
Que quase parece dia, depois de tanta noite.

Por mim, não se coroará a morte de alegria,
Razão tinha o Eugénio.

Pelo menos, hoje!

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Sou vento

Sou vento.
Ar que foge ou não existe.
Sobre mim, nuvens que tudo podem.

O meu peito vai desabando com o peso,
O meu queixo não conhece posição erguida.
Tentei querer essa altivez,
Tentei esse acreditar de tudo,
Mas sou só ar.

As gentes não me tocam nem me vêem,
Não me sabem prever as mudanças de direção.
Não me podem cravar os dedos e pedir que fique,
Mas a certeza das más notícias que sou
São o maior eufemismo
Destas noites de barulho que me confundem.

O vento não gosta de silêncio.