quinta-feira, 11 de outubro de 2012


era uma vez um menina.
tinha sonhos de longe e de muito.
tinha gentes no bolso
sorrisos na mochila...

um dia trouxe o longe para o hoje,
o muito para o ar que respirava,
não teve espaço para as pessoas
mas deixou com elas os sorrisos
para trazer a mochila vazia.

as pessoas gastaram os sorrisos,
não esperaram o seu regresso,
deixaram pela terra as memórias
e disseram o adeus ingrato de quem nem lembra.

a não lembrança fez-se pesada,
pesados rochedos arrastavam
a mochila da menina.
agora sem espaço para sorrisos
mas sequeosa de pessoas
que a quisessem ver voltar.


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

emerge neste escuro de quatro paredes
a ilusão forçada de que ainda não foste.
é como um colorido balão na mão duma criança
que sem noção de como lidar com ele,
o larga e deixa voar.
As consequentes lágrimas
gritam o sentimento de que o tempo foi curto.
as memórias são pinturas à chuva.
Choram elas e chora o pintor
pela arte perdida... a tela sem foco.
Exaltam-se todos os poros
do corpo que te viu dormir,
que te sentiu respirar e trincar os lábios.
Não estás mais aqui
e o rio desta cama torna-se mar
e eu sou infima sem ti.
sou menos que esta cama
subtraída à nossa respiração,
ao desejo e aos teus olhos.
Sou quase nula e o quase é um eufemismo.