sábado, 25 de maio de 2013

Não importa

Hoje percebi.
Procurar não é o caminho.
Encontrar não existe.

O amor é a mentira melhor contada pela Humanidade.
Surge mentindo, surge porque mente.
E só porque surge e engana
desde todos os começos já conhecidos,
já existe e é verdade.

Mas o difícil não tocar-lhe,
nem contemplá-lo.
É saber que existe sem o ter
e viver o abuso dessa mentira.
É ter, para além de tocar, mergulhado nele
tão profunda e inadevertidamente
que todas as cores do mundo
se baralharam a olho nu.

E é ver de novo.
Abrir os olhos pela primeira vez.
É tirar peito fora e aceitar a mentira,
aceitar a verdade de ser mentira.
É viver a mentira de dizer uma verdade que não existia.

E de repente todos os poemas do mundo foram feitos para nós,
e temos a noção da falta de originalidade que é amar.

E não importa.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Camisa desabotoada


Se a minha camisa precisasse de botões,
a natureza não os teria feito
neste exagero de fragilidade.
Esses botões não lhe pertencem
e é nesse abandono que não te nego.
Até porque não seria capaz!
Na medida dos nossos impetos,
é escassa a eficácia de tais trancas.

Chamam-lhe cosmos, destino,
fado ou equilibrio...
Não sei!
Nomenclatura é coisa de que não me quero ocupar por ora!
Todos eles juntos conspiram por nós,
a favor de nós.

Abre-se a minha camisa só porque me olhas,
Fitas-me e o teu toque é uma apoteose de sentidos,
um eufemismo do nosso desejo!

Utopia da tua mão que toca este corpo a ti oferecido,
destinado.

Não vale a pena fechar botões que teimam em se abrir,
não tocar com a pele o que a alma já uniu há tanto tempo!