domingo, 2 de março de 2014

Sim, eu vou ser aquela mulher.
Vou ser a amargura dela e as suas lágrimas.
Não me venham consolar!
Consolos são lamentos humilhados.

Vou ser a amargura daquela mulher
E escondê-la por baixo do tapete.
Arrumar a casa e escolher as flores mais bonitas.
Vou fazer da minha casa a antítese do que escondo.

Vou ser essa mulher e vou tocar-lhe.
Vou deixar-me sofrer em vez de fugir.
Vou estar aqui mesmo e deixar-me roer... ruir!
Que os pedaços de carne que me apodrecem não sejam nem notados!

Vou deixar que nasça nova carne no lugar da que se foi.
E se não houver mais carne,
Se for inútil a minha espera, pois que desapareça...
Que desvaneça eu e o que me existe.
Que seja pó ou ar, mas que não se deixe existir.

Vou ser essa amargura, essa dor de desistente.
Abandonar-me às emoções que não são eu mas me desenham.
Talvez abraçando essa mulher,
Faça sentido este choro que é meu.
Talvez tocando-lhe seja mais real
A destrução que me tenho negado.