quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Crónicas de um final (2)

Levas esses teus olhos tristes,
Caminhas e quase vês o teu reflexo
Nas poças de água.

Levas essa falta de sorriso,
Como se a energia te tivesse caído do coração,
Te pesasse nos braços
E não bastasse para alçar os cantos da boca.

Levas as mãos caídas.
Essas mãos cansadas de mim.
Do meu peso e o meu não ser.

Não é culpa tua.
Fomos o falhanço conjunto
Dos equilibrados.

Crónicas de um final (1)

Deixaste a tua camisola na minha cama,
Engelhada e de botões desbotados.

Ainda bem que deixaste a tua camisola na minha cama.
Cheira a ti.

Os soluços destas palavras são iguais a nós
E às intermitências da tua presença.

Saber de ti por uma camisola é sufoco.
Como se só pudesse respirar com a tua camisola
Encostada à minha cara,
Mas não quisesse cheirá-la
Com medo de que o teu cheiro desvaneça.

Se o teu cheiro desaparece,
Não sei se desapareces tu também.
Não sei se foges ou te diluis.
Não sei como te manter aqui.

Será que voltas?
Não há azul mar sem os teus olhos,
Nem lágrimas de riso sem o teu desconcerto,
Nem paz de alma sem a tua voz ao meu ouvido.