quarta-feira, 9 de maio de 2018

Crónicas de um final (4)

Eu estou bem, não te inquietes.
Sei que nem perguntaste,
Mas eu prefiro achar que sim.
Estou bem de estômago deserto,
Estou bem de coração sangrento
E até mesmo de pés calejados.

Estou bem porque não quero estar mal.

Caminhámos muito.
Fomos grandes e pequenos.
Fomos bichos de conta preguiçosos,
Em vez de filmes, contávamos histórias.

Esta é uma frase batida,
Mas quero que me oiças mais uma vez.
Estou a cortar este cordão umbilical de guerreiro,
Com uma tesoura perra e por afinar.
E eu sei que ainda só somos de ontem,
Mas este corte eterno dói mais
Que uma impiedosa faca acabada de afiar.
Ou então dói igual,
Mas este é meu pretexto necessário.

Tu sabes mais destas dores...
Ensinas-me os teus truques?
Como posso confiar no tempo,
Se lhe quero o contrário?

Já sei que é altura de ir,
Mas fica por perto, por favor.
Sê perfeito, porque o imperfeito não resultou.
Não foste suficiente, nem eu.
Portanto agora vou-me sentar e vou esperar.
Vou esperar por mim.
Esperar até poder dizer-te 
Que estou viva, sem mentir.



Adeus.