Sei que nem perguntaste,
Mas eu prefiro achar que sim.
Estou bem de estômago deserto,
Estou bem de coração sangrento
E até mesmo de pés calejados.
Estou bem porque não quero estar mal.
Caminhámos muito.
Fomos grandes e pequenos.
Fomos bichos de conta preguiçosos,
Em vez de filmes, contávamos histórias.
Esta é uma frase batida,
Mas quero que me oiças mais uma vez.
Estou a cortar este cordão umbilical de guerreiro,
Com uma tesoura perra e por afinar.
E eu sei que ainda só somos de ontem,
Mas este corte eterno dói mais
Que uma impiedosa faca acabada de afiar.
Ou então dói igual,
Mas este é meu pretexto necessário.
Tu sabes mais destas dores...
Ensinas-me os teus truques?
Como posso confiar no tempo,
Se lhe quero o contrário?
Já sei que é altura de ir,
Mas fica por perto, por favor.
Sê perfeito, porque o imperfeito não resultou.
Não foste suficiente, nem eu.
Portanto agora vou-me sentar e vou esperar.
Vou esperar por mim.
Esperar até poder dizer-te
Que estou viva, sem mentir.
Adeus.