Perdão, mas hoje não posso.
Estou ocupada a nascer de novo.
Fui ali à mercearia da esquina,
Encontrei umas cerejas rosadas
E eram talvez a coisa
Mais colorida daquele dia.
Não sabiam a veludo nem seda.
Eram de cor amargura,
De cheiro solidão.
Mas trouxe-as no cesto.
Mastiguei a sua amargura
E engoli a sua solidão.
Foi o princípio da minha cura.
Perdão, hoje não vou.
Estou ocupada a sentir pena de mim.
Tentei as outras formas
A força, a glória, a modéstia e a humildade.
Mas acordei sempre na mesma pele.
Fugi do desgosto último
E só encontrei meias curas.
Por isso, hoje não posso.
Peço perdão.
Só do fundo ou do topo
Nascem os poemas.
Só do excesso e
Do choro e das cerejas,
Esperemos,
Virá algum sossego da tua partida.
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