sábado, 28 de março de 2015

Perdão, mas hoje não posso.
Estou ocupada a nascer de novo.

Fui ali à mercearia da esquina,
Encontrei umas cerejas rosadas
E eram talvez a coisa
Mais colorida daquele dia.
Não sabiam a veludo nem seda.
Eram de cor amargura,
De cheiro solidão.

Mas trouxe-as no cesto.
Mastiguei a sua amargura
E engoli a sua solidão.
Foi o princípio da minha cura.

Perdão, hoje não vou.
Estou ocupada a sentir pena de mim.

Tentei as outras formas
A força, a glória, a modéstia e a humildade.
Mas acordei sempre na mesma pele.
Fugi do desgosto último
E só encontrei meias curas.

Por isso, hoje não posso.
Peço perdão.

Só do fundo ou do topo
Nascem os poemas.
Só do excesso e
Do choro e das cerejas,
Esperemos,
Virá algum sossego da tua partida.

Sem comentários:

Enviar um comentário

distorções